21.1.07

A força do nacionalismo na sociedade turca

A forma como o adolescente Ogun Samast explicou o facto de ter assassinado o escritor de origem arménia Hrant Dink veio chamar a atenção para grupos como o Partido de Acção Nacionalista (Milliyetçi Hareket Partisi, MHP), porta-estandarte da extrema-direita turca, que se opõe ao pluralismo cultural e se opõe a uma etnicidade homogénea.
Para além de ter demonstrado o precário estado da liberdade de expressão num país com pretensões a vir a fazer parte da União Europeia, o assassínio do representante de uma minoria colocou em foco as posições de nacionalismo radical que de vez em quando parecem ganhar novo fôlego na sociedade turca.
Os nacionalistas sempre viram os apelos de Dink a um reconhecimento por Ancara de que foram chacinados muitos arménios durante a I Guerra Mundial como um insulto à honra da nação, que para eles é o valor supremo.
“O nosso grande ideal é elevar a nossa nação ao mais elevado nível de civilização e prosperidade”, disse Kemal Ataturk, que viveu de 1881 a 1938 e foi o fundador da República, herdeira do Império Otomano que existiu de 1299 a 1923.
Dezenas de intelectuais têm sido acusados de insultar a identidade turca, ao abrigo do artigo 301 do Código Penal revisto, aprovado pelo actual Governo mas que mesmo assim ainda deixa muito a desejar em relação aos cânones ocidentais.
Dia 3 deste mês, no Financial Times, o correspondente Vincent Boland fez uma análise da forma como “os turcos estão a ficar cada vez mais desiludidos com a Europa”, tendo assinalado o surgimento de um novo tipo de nacionalismo. E no dia 12 o académico turco Kaan Durukan sintetizou que, para a maioria dos seus compatriotas, “o nacionalismo é o menor denominador comum da sua identidade, independentemente do estatuto social, do poder económico e da filiação política”. J.H.

2.1.07

O Ocidente sempre apoiou a Etiópia

Bem se poderá dizer que a Administração de George W. Bush nada mais faz hoje em dia, ao apoiar a Etiópia contra os islamistas somalis, do que prosseguir uma linha traçada por D. João II de Portugal, o Príncipe Perfeito, quando em 1487 enviou Afonso de Paiva em demanda do Preste João, o imperador cristão etíope que Lisboa queria ter como aliado na luta contra “os infiéis”, que eram os muçulmanos.
Quando o Ocidente hoje em dia se refere à “Etiópia cristã”, apesar de as estatísticas dizerem que os cristãos não são ali muito mais do que os seguidores de Maomé (o anuário da CIA até os coloca em minoria), prossegue o imaginário de D. João II e de D. Manuel I, que se deixaram seduzir pelas igrejas e conventos que haveria naquela terra remota.
Tendo a partir do século XVI os reis de Portugal adoptado também, entre outros, o título de “senhores do comércio, da conquista e da navegação da Etiópia”, enviaram tropas a proteger o seu negócio e a combater os piratas somalis que infestavam as costas do Corno de África.
Os etíopes vivem no Estado africano que desde há mais tempo é independente, mas até hoje ainda não conseguiram definir uma fronteira clara com a Somália, antes tendo uma linha administrativa a separá-los da região de Oromo, no Sul do país vizinho. Essa mesma área por onde nos últimos 15 dias rodaram os seus tanques, em aliança com o frágil Governo que se encontrava aquartelado em Baidoa e que perdera para os islamistas o controlo de Mogadíscio, a capital.
De 1976 a 1978 travou-se a guerra de Ogaden, pela qual o regime de Siad Barre pretendia anexar uma parte da Etiópia e preparar a Grande Somália. E agora são as Forças Armadas de Meles Zenawi que alcançam Mogadíscio e Kismayo, como que, por intermédio de uma espécie de “Governo fantoche”, a tentarem constituir uma...Grande Etiópia.
Para que a tradição continue a ser o que era, os aliados somalis de Addis-Abeba solicitaram aos Estados Unidos que lhes garantam meios para proteger a costa. Exactamente o que os etíopes do século XVI pediram aos soberanos do longínquo Portugal. J.H.